O Sofrimento de Nascer
生れ出づる悩み

    
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   Depois de te acompanhar até o portão de madeira, fui fazer caminhada no meio das macieiras. Os galhos estavam bem carregados de maçãs vermelhas. Alguns pés, já nem tinham mais as folhas, todas haviam caídas e só estava carregadas de maçãs vermelhas brilhandos ao sol.
    Era um dia ensolarado muito agradável de final de outono.
As folhas secas caídas no chão quebravam conforme meu gueta (tamanco japonês) pisava, soltando barulhos secos. Sentia-se no ar, uma solidão no meio da abundancia.
    Coincidentemente, era uma época em que eu também me encontrava numa encruzilhada da vida e desnorteada.
    No meio da natureza prestes a transformar para o inverno, por várias vezes parei de andar e fiquei pensando sobre você e sobre minha vida. Você me deixou um impacto muito forte e desapareceu da minha frente.
    Depois do primeiro encontro, você me enviou algumas cartas, mas depois disso não tive mais notícias de você. Quando eu encontrava com pessoas que vieram da cidade de Iwanai, eu perguntava se não conhecia um rapaz de tal nome naquela pequena cidade portuária, mas ninguém o conhecia. E a pintura de paisagem da mina de sulfato também nunca foi me enviado.

 

旧有島邸 Antiga Casa de Arishima
旧有島邸の画像


      Passaram-se dois anos, três anos, e continuava sem nenhuma notícia sua.
As vezes, repentinamente lembrava de você e quando isso acontecia, eu sentia uma solidão.
    Duas pessoas se encontraram, conversaram o que pensava sem se esconderem nada, e mesmo vivendo na mesma planeta e respirando o mesmo ar, não se podem, ou melhor, eternamente não poderão se reencontrar…
    Isso é sem dúvida, uma coisa mais misteriosa, solitária e temerosa. E esses tipos de coisas acontecem tanto para homens, cães, flores e até com as poeiras.
    Eu sempre fui um homem acostumado com a solidão, mas também possuo coração afável e muito emotivo. Talvez, seria por isso que sinto profundamente essa tristeza, do destino no meu coração e caio na profunda melancolia. Você foi uma das raras pessoas que me provocou esse sentimento.
    O pior que, nós homens são tão ignorantes quanto os macacos, pois esquecemos facilmente das coisas importantes. O tempo que ficamos distantes, 4 ou 5 anos, fez com que o esquecimento varresse da minha memória, tudo sobre você. As suas recordações ultrapassaram a limiar da minha consciência e iam ser enterradas no fundo da minha subconsciência.
    E esse tempo que passou, provocou também uma mudança significativa na minha vida. Vivi ao todo, oitoanos em Sapporo. Aconteceu muitas coisas nessa cidade. Me casei, tive família, virei pai de três filhos. Abandonei a igreja que por muito tempo fui fiel, comecei a me sentir decepção com o trabalho que vinha fazendo até então.  E estava prestes a surgir uma mudança ainda maior na minha vida, ainda que meio vaga, uma nuvem tenebrosa estava me aproximando. Eu nem sabia mais se eu podia acreditar ou não no meu talento como um escritor. Após pensar muito, resolvi deixar de morar em Sapporo.

    A vida na cidade é monótona, mas o pior, foi, de eu ter que aguentar monte de problemas que começaram a surgir um após outro. No meio a esta crise que estava afetando meu coração, eu fui obrigado a tomar uma decisão irreversível, de me submeter a um mundo desconhecido.
    Este novo mundo se chamava literatura. A decisão de viver como um escritor profissional, um caminho que não deve ser nada fácil, que eu tinha que seguir sozinho, sem ajuda de ninguém. Porém, se uma vez eu resolver viver como um escritor, haja o que haver, tenho que me preparar espiritualmente, para jamais retroceder.
    No entanto, eu sempre tive dúvidas em relação ao meu talento como um escritor, mas mesmo assim, eu tinha que continuar escrevendo.
    As vezes, no meio da noite, no horário que todos já estavam dormindo, ficava acordado sozinho, em meio a silêncio da noite, a ponta da minha caneta tinteira escorregava em cima do papel, livre e ininterruptamente, como se eu tivesse possuído por alguma coisa divina.
    Não era raro que vez em quando, sentia que em volta de mim, as palavras flutuavam como almas vagando, querendo ser exprimidos como letras em cima do papel. Quando eu percebia isso, os meus olhos enchiam de lágrimas de emoção. Essa sensação, ou melhor dizer, êxtase é incompreensível para leigos que nunca sentiram uma emoção de produzir um arte.


岩内の港 Cidade Portuária de Iwanai
岩内の町


    Mas por outro lado, as vezes me deparava também com um enorme solidão inexplicável, quando o meu coração ficava perturbado, confuso e não conseguia sequer encontrar um pedaço de pureza em nenhum lugar no seu interior. Nessa hora, eu era apenas uma porção de material orgânico sem nenhum valor.
    Para mim não resta mais nada, só tenho esse trabalho de escrever. Mas eu me duvidava de mim mesmo, se realmente eu sou digno de um escritor de literatura.
    Acredito que não há coisa mais triste no mundo do que um escritor duvidar se ele é um escritor mesmo.
    Quando começa a sentir isso, significa que a sorte te abandonou. E pelo incrível que pareça, não sei por que razão, nessa hora eu me lembrava de você. Aquele olhar decidido e desafiador, após passar por severos conflitos no seu coração, se poderia ou não acreditar no seu talento como um pintor.
    Aquele rosto que demonstrava que havia superado a violenta batalha interna entre confiança e crítica rigorosa consigo mesmo.
    Eu joguei a caneta na mesa, me levantei da cadeira e fiquei andando dentro do escritório de trabalho.
    - Como será que aquele jovem está vivendo? Só desejo que não se perca no caminho. Se ele não tem talento para ser pintor, que tenha uma vida de um trabalhador honesto. Esse tipo de sofrimento que estou passando agora, basta só para mim, não quero que você passe por isso!

Pacote de Papel Pleado ニ油紙で包装されたもの
油紙の包装


     Entretanto, no outubro do ano passado, justos 10 anos após ter te conhecido naquela casa à beira do rio, num dia de chuva chegou um pacote enviado por correio. Quando a minha empregada me trouxe o pacote, eu até pensei que alguém tivesse enviado peixe seco, pois o cheiro que o pacote embrulhado com papel oleado emanava era tão forte que a sala inteira foi dominado por esse cheiro.
    A embalagem do pacote estava molhado de chuva e sujo de barro que mal podia ler o nome do remetente. Eu li o nome do remetente da etiqueta do pacote, mas não me lembrava quem era.
    Peguei um canivete e cortei o barbante que amarrava o pacote. Quando desembrulhei papel oleado de fora, apareceu outra embalagem de papel oleado por dentro, também amarrado com barbante de cânhamo. Cortei a barbante e desembrulhei. Daí, de novo tinha uma outra embalagem de papel oleado amarrado com barbante de cânhamo por dentro.
    Era um pacote embrulhado com muito capricho – se não dizer obstinado.
Após muito trabalho para desembrulhar, parecido com o trabalho de descascar a cebola, apareceu um embrulho enrolado com várias folhas de jornal. E por dentro disso apareceu três cadernos de desenho de capas bem sujas e enrolados como tubo.
    Ainda meio preocupado com cheiro forte parecido com o de peixe seco, eu abri os cadernos de desenho.  Nas páginas do caderno de desenho só tinham esboços de paisagens com montanhas e árvores desenhado com lápis.
    Pelas paisagens ali desenhadas, sabia que eram de Hokkaido. E eram excelentes trabalhos, que somente os verdadeiros artistas podiam enxergar e passar em cima do papel.
    - Caramba! Ele conseguiu!
Foi palavras que sairam da minha boca. Sem perceber, eu havia mordido lábios, mas ao mesmo tempo eu estava sorrindo lembrando sembrante de você ainda adolescente.
    Eu confesso que, se aquela cena fosse de um romance ou de uma peça teatral, na minha cara estaria estampada amargura e ciúme, em vez de sorriso.
    Mais tarde, quase à noite, recebi a carta enviado por você. A carta era uma folha de caderno de desenho, e nela estava escrito com letras rabiscadas.


    “Em Hokkaido, estamos em pleno outono. No campo sopra diariamente ventos gélidos. As árvores e as flores que a gente veio apreciando, sem perceber já deixaram cair suas folhas e pétalas.
    O outono faz com que a gente pensa em muitas coisas. Vez em quando, o céu fica tão lindo que até parece que as montanhas estão flutuando. Mas, na maioria dos dias, o vento traz chuvas e a estrada fica tudo lamacento.
    Ontem lhe enviei três cadernos de desenho, pois prometi ao senhor, quando nos encontramos pela primeira vez, que eu ia enviar meus trabalhos. Sou pobre e trabalho na minha cidade como pescador para me sustentar. Dou duro todo dia, trabalho muito e por causa disso, até este ano nem pude fazer pinturas.  
     No mês de julho, juntei as folhas de desenho e confeccionei caderno de desenho e comecei a fazer esboços das paisagens com lápis. Mas, a minha mão, tão cansada de trabalhar arduamente durante o dia todo, não conseguia expressar de forma satisfatória, as minhas sensações que eu sentia e isso me deixou muito perplexo…
     Fico muito envergonhado de pedir para senhor ver estes esboços tão mal desenhados, mas eu resolvi enviar tudo que fiz, para lhe mostrar o que eu fiz.
     É interessante, pois mesmo os jovens que são considerados intelectuais na minha cidade, não pensam muito sobre si próprio. A maioria deles procuram mais diversões e vivem a vida de forma miúda, ou então, vivem desperdiçando o tempo em coisas fúteis. Mas eu adoro esta cidade, pois é onde eu nasci.
     Muitas coisas que vejo e sinto, fazem com que meu coração palpite de emoções. Mas o que gostaria mesmo de perguntar é: “Será que tem algo de bom nos meu esboços?”  Sinceramente, sinto vergonha de lhe mostrar meu trabalhos péssimos.
     Tenho vontade de pintar a montanha, usando à vontade a tinta, do modo que pareça que a montanha se ergue imponentemente para o céu. Mas, no meu esboço, lamentavelmente eu não consegui desenhar como eu pretendia.
     A minha montanha, na realidade é bem mais baixo do que eu imagino. As matas também acho que faltam a presença. Se colorir com tinta ficaria em melhor, mas falta tempo e dinheiro para mim. Então, me satisfaço somente com o esboço a lápis.
Dentro da minha cabeça, está cheia de composições de imagem, mas sinto que ainda não tenho capacidade o suficiente para representá-los em telas.
  Peço desculpas por tomar seu tempo precioso e incomodar com essas coisas. Mas,  se um dia pudermos nos encontrar de novo, gostaria de ouvir sua opinião.

                                           Em outubro

                                          Atenciosamente,


Mina de Sulfato ニセコの硫黄採掘場
ニセコの硫黄採掘場


     Acho que você nem imagina, como sua carta de letras rabiscadas me comoveu.
Por eu ser um escritor literário, possuo um instinto bem afiado de perceber verdades e mentiras contidas nos textos, mesmo sendo redigido por outras.
     Na medida que fui lendo sua carta, as lágrimas escorriam nos meus rostos. Nos papeis oleados cheirando peixe, cadernos de esboços – que eram realmente excelentes obras de arte – e seu texto da carta, não havia nada de falso, só podia sentir a essência de pura verdade. 
     A palavra  “minhas sensações” que você inventou, tornou-se uma poderosa palavra e tocou profundamente o meu coração. A expressão, “Tenho vontade de pintar a montanha, usando maciçamente a tinta, do modo que pareça que a montanha se ergue imponentemente para o céu...” .
    “Montanha se ergue imponentemente para o céu”! Mas que expressão esplêndido, que descreve a natureza! A expressão forte que esta palavra contém é inimitável, para os que veem o alvo como coisa corriqueira.
    “Num canto da planeta Terra, que ninguém nota e nem percebe, uma alma nobre está sofrendo para nascer”. Eu senti isso. E quando penso assim, sinto também que a nossa planeta chamada Terra é muito linda. E isso fez com que eu derramasse mais lágrimas.     

蒸気機関車画像


      Na ocasião,  eu estava planejando viajar para Hokkaido, mas devido a muitos problemas – pequenas – que tinha que resolver, fui adiando, adiando, e o tempo foi passando, começou a chegar época de frio, e quando quase ia desistir da viagem, recebi seus cadernos de desenho e carta.
      Isso fez com que eu mudasse da ideia e resolvi viajar para me encontrar com você. Então me preparei rapidamente para a viagem e depois de uma semana, precisamente no dia 5 de novembro, eu peguei um trem expresso com destino à província de Aomori na estação de Ueno, em Tokyo.
      Em Sapporo, resolvi os problemas e antes de ir para minha fazenda, enviei uma carta para você que mora na cidade de Iwanai. Na carta perguntei se você não poderia dar um pulo até a minha fazenda que situa próxima da Iwanai para nós encontrarmos. 
      No dia que cheguei na fazenda você não apareceu.
No dia seguinte começou a nevar desde manhã. Eu mudei a minha escrevaninha para próximo a janela e comecei a escrever, mas com muita ansiedade para te rever.
     A caneta não escorregava bem, mas eu não estava me importando muito com isso. Eu imaginava nas matérias que havia escrito até então, tais como memórias, etc., e pensava nas coisas que virão a acontecer.

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 船画像


 

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