O Sofrimento de Nascer
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@@
O
crepúsculo foi desaparecendo e a noite estava chegando.
O
meu empregado que toma conta do escritório do sítio me trouxe um
lampião e me perguntou se queria que trazasse janta na minha sala.
Eu pensei que talvez você viria mais tarde, então
pedi para deixar na
sala de jantar e voltei e me concentrar no texto.
Pelo canto dos meus olhos, vi
vulto de um homem grande - meu empregado - saindo da sala. Eu acho que
num lugar retirado
como esse, as coisas, seja este objeto ou pessoa, parecem mais calmos e
mais grande
do
que as que se vê no metrópole. Isso é uma sensação meio estranha.
A caneta estava relutante em continuar a escrever. Fora da janela
estava sendo
tomada pelo tom claros-escuro – a mistura de neve e escuridão da noite. A
natureza estava irada por alguma coisa e partiu para
agressão com a chegada da noite.
Mesmo sentado em tatami (* tapete
japonesa), podia sentir a violenta pressão silenciosa que a atmosfera
exercia nas
paredes externas da casa. A natureza irada levantava as neves e
atirava para tudo quanto é
lado, contorcia, uivava e berrava.
A tempestade de neve estava se
aproximando. Eu resolvi fechar a cortina de linho branco da janela.
Diante do enorme poder da natureza, uma casa como essa que foi
construído para proteger, parece tão frágil e
insignificante.
De repente, ouviu-se
estrondos contínuos, ou melhor, atividade.
Bem,
nessa hora a gente não consegue distinguir o que é som e o que é
movimento, pois as duas vem
simultaneamente.
gComeçou a tempestadeh. Instintivamente, eu me
preparei
levantando o corpo que estava curvado sobre a escrivaninha.
A natureza encostou seus dentes do maxilar
superior no seu lábio inferior e deu uma rajada de vento forte e bem
longa. A casa
estremeceu.
Mesmo estando dentro da casa, pude imaginar a
cena patético de
as neves sobem dançando do chão, adquirirem impulso e atacam
o céu, como se rebelassem contra o céu.
"Já basta. Ele não vem. A estrada que liga o
ponto de ônibus a este sítio já deve estar totalmente coberta de neve,
impossibilitando a qualquer pessoa de chegar aqui."
No meio da tempestade de neve pensei isso e
fiquei triste. Voltei a olhar para as folhas da escrivaninha tentei
escrever, mas não conseguia-me concentrar. Leves dores de parto para
parir frases surgiam, no entanto, as letras não nasciam.
Passou-se assim, horas dolorosas e infrutíferas.
Ai, o meu empregado apareceu na sala, me aproximou devagar e avisuque
acabara de chegar uma visita.
gVocê pode imaginar a alegria que senti naquela
hora?h
Imediatamente me levantei e fui correndo até o
escritório
administrativo.
Quando abri a porta da sala de administração e olhei
para a porta de entrada, que fica próximo da cozinha, onde há um grande
irori (*1), havia um homem em pé, ainda sem tirar as
botas.
O visitante era um homem bem alto. Comparando com
ele, até meu
empregado que achava que era alto e a mulher dele que era bem
gorda, como se competisse com seu marido (só que de largurac), pareciam
de estaturas normais.
O homem usava um casaco com capus de cor escura, estava quase todo
coberto de neve e soltava ar branco pela boca. A imagem medonho do
homem
era suficiente para assustar criança que estava no coro da mulher do
empregado. A criança olhava para o homem com olhar assustado e ao mesmo
tempo de curiosidade.
"Esse homem não deve ser o visitante que eu
esperava...".
A frustração que senti, quando achei que o
visitante não era
você, me fez senir irritado.
- Chegue para cá, por favor.
O meu empregado convidou-o para perto da
lareira para se aquecer e ofereceu-lhe almofada para sentar, pois achou
que ele veio visitar seu patrão. O homem agradeceu meneando a cabeça e
chegou perto do
irori. As luzes
do lampião e das lenhas do irori não foram suficientes para ver
direito o rosto dele coberto com capuz.
Esperei ele tirar as botas velhas do exército, e
convidei-o para ir à
sala onde eu estava trabalhando. Enquanto andávamos no corredor, eu não
disse uma palavra, só desejava que esse visitante estranho não me faça
desperdiçar o tempo precioso, que ele não tenha me trazido assuntos que
me
desagrade.
@@@
Ao entrarmos na
minha sala e
depois que sentarmos, ele me cumprimentou de forma meio desajeitada e
disse com uma voz bem grossa:
- Quanto tempo.
- Quem é senhor?
Ele parece que estava um pouco envergonhado. Passou a mão no
seu rosto vermelho e suado e respondeu.
- Sou Kimoto.
- O que? Você é Kimoto?!
Foi muito surpreendente, o reencontro com ele. Eu fiquei olhando bem
para cara dele.
Quem imaginaria que este homenzarrão, um dia foi
auele rapaz
baixinho, que não conseguiu cresceu como os outros por causa da
eplepsia infantil? Muito menos, imaginar que este homem possui a
sensibilidade e olhos tão
aguçados, de não deixar escapar nenhuma folhas agulhas dos
pinheiros que estão brotando dos seus troncos – como se estivesse
acariciando e tentando compreender – coisas surpreendentes que pude
notar nos esboços dos seus cadernos de desenho.
Você estava usando dois agasalho de attus (*2),
um
sobre outro, de bordados
geométricas, característica desse traje tradicional, e estava sentado
bem calmo diante de mim.
Aparentemente, você era uns 20 centímetros
mais alto que eu. Os seus ombros eram bem musculosos e pescoço grosso
parecia um touro. E o seu rosto bronzeado de queimar no sol, era firme
e saudável, tinha sobrancelhas grossas e nariz alto e podia sentir a
sua condescencia pelo sorriso.
Sinceramente, fiquei muito admirado pela sua
aparência, de um lindo
jovem saudável. Eu até imaginei – pura bobagem – se um cara for
apresenar a sua namorada, deve sentir ciúme e
desconfiança, se ela não trocaria ele por esse lindo e forte jovem
Kimoto.
- Deve ter sido difícil você chegar até aqui no meio dessa tempestade
de
neve.
- Não tive problema nenhum. Eu estava tão quente que
soei muito. Só não
sabia bem o caminho para chegar aqui, mas por sorte, eu encontrei com o
homem que toma conta do moinho de água. Ele foi muito gentil em me
mostrar o caminho.
Você é uma pessoa bem simples e honesto, que todos
que te
conhecem não devem hesitar em te ajudar. Aquele homem do
moinho de água também é um homem bom.
Você tirou a toalha de rosto que estava pendurado na cintura e enxugou
várias vezes o rosto que estava escorrendo suor.
Foi trazido zen (*3) de
janta.
- Não aguento mais!
Repentinamente você disse isso e cruzou as pernas que até então estava
sentado comportadamente.
- Eu não estou acostumado a ficar sentado comportado.
Ele se desculpou meio sem graça. Depois jantamos juntos, como se duas
crianças amigas
estivessem comendo junto. Foi um jantar muito feliz.
Francamente, o seu apetite me surpreendeu e eu
fiquei ainda mais feliz. foi primeira vez que vi alguém tomar três
tijalas (na tijela de arroz!) de chá após refeição (que aliás, comeu
muito bem!).
A conversa tão alegre que tivemos depois do jantar
continuou até
tarde da noite foi muito bom, inesquecível, me lembro nítidamente até
hoje.
Lá fora, a tempestade de neve uivava sem parar, mas
dentro da sala, com lareira no centro, estava muito
aconchegante e agradável.
Você continuou sentado de pernas cruzadas e vez em
quando passava mão
no seu cabelo bem escuro cortado curto. Acho que aquilo era seu
hábito. Seu gesto, seu lindo rosto, que até mesmo homem acharia bonito,
tudo
isso parecia alegrar ainda mais o ambiente.
Na medida que a sala foi aquecendo, o cheiro de
peixe que você (seu
corpo e vestimentos) emanava com suor logo encheu a sala, mas esse
cheiro só me fez lembrar do mar selvagem e não me incomodou nada.
As vezes a sensação do homem é conveniente.
(*2)
Tecido
confeccionado a partir de fios extraídos de Ulmus laciniata ou Tilia
japonica, que eram utilizados principalmente por povo ainus, moradores
nativos da região norte do Japão.
(*3)
Pequena mesa individual que coloca pratos
@@@
(*1)
Irori ˆÍ˜F— lareira japonesa que serve
também para
aquecer chaleira e panela
Eu escrevi guma conversa alegreh.
Mas isso não significa uma
conversa divertida, pois eu percebi que as vezes no meio da conversa,
seu rosto ficava anuviado, provavelmente devido a seus problemas. Ao
ver isso eu também lembrei da ansiedade que sinto
em relação ao meu futuro como escritor profissional.
Bem, aqui acho que devo deixar registrado sobre a
história que
você me contou naquela noite, a história pós o nosso primeiro
encontro.
Quando você veio me encontrar naquele dia, quando
ainda era rapaz, você tinha perdido a oportunidade
de continuar o estudo em Tokyo. A cidade de Iwanai – uma cidade do
litoral oeste de Hokkaido, que teve
sua época de apogeu econômico maior que a de Otaru – estava em
decadência sem
maiores motivos, não conseguiu-se prosperar e como consequência, as
oportunidades também foram-se reduzindo gradativamente.
Essa mudança de situação econômica da cidade afetou
de cheio a família do
seu pai. Na sua família, todos trabalharam arduamente, o
pai, irmão mais velho e até sua irmã mais nova, entretanto, a situação
não melhorava e piorava cada vez mais, chegando a nível econômica
alarmante.
Bom, você nunca se interessou no estudo e portanto,
sempre tirava notas
ruins nas provas, aumentando ainda mais seu desinteresse pelo estudo.
Por outro lado, você gostava muito de arte, aliás, tinha paixão
por arte, mas a situação da sua família fez com que você tomasse a
difícil decisão de abandonar arte e retornar a sua cidade natal, a
velha cidade
portuária.
Aquele dia, quando nos encontramos pela primeira
vez, você
mostrava no seu rosto uma certa ansiedade devido ao esse problema. Mas
você iria continuar com a sua pintura na sua cidade, mesmo no
meio de tão atarefado e árduo trabalho como pescador. Com esse
plano você deve ter despedido da cidade de Sapporo.
Mas a situação da sua família estava bem mais ruim
que você imaginava.
Quando você voltou para casa dos pais, você viu seu pai e seu
irmão mais velho recebendo você, com traje de humildes pescadores.
Seu pai já
estava bem velho e seu irmão mais velho parece que não tinha saúde e
corpo forte
para trabalhar como pescador. Eles estavam consertado a
rede de pesca, como qualquer pesacador humilde faz, mas pela situação
que eles vivem nem podia imaginar que sua família era dono
do direito pesca de uma grande área. Logo você percebeu que estava
otimista de mais, e sentiu também um grande arrependimento de
abandonar sem pensar muito, o caminho da arte e ter voltado para casa,
para se
mergulhar na realidade.
Você me confessou que na primeira noite que dormiu
na casa dos
seus pais, sentiu uma profunda angústia, comparado a de um animal que
caiu
na armadilha. Ficou tremendamente irritado consigo mesmo, e passou
a noite em claro.
Eu compreendo o que você deve ter sentido nessa
noite. Serei capas de eu escrever um conto emocionante sobre esse
episódio.
Mas você sempre foi uma pessoa de coração sincera e foi
também um
filho que se preocupava muito com os seus pais, não quis fugir diante
da realidade e da responsabilidade. Largou o
uniforme colegial de cor preto e trocou por agasalhos grossos
confeccionados de attus(*2) e teve
que começar a trabalhar como pescador,
pescando desde abadejo de alasca, bacalhau, arenque de pacífico e até
lula, de acordo com a época de pesca, trabalhando arduamente o ano
inteiro
enfrentando intempéries e bravas ondas do mar de
norte.
A situação estava bem ruim, pois o quebra-mar que foi
construído
na baía por engenheiro civil para proteger os navios do porto, por erro
de cálculo do engenheiro, em vez de proteger o porto começou a trazer
areias para dentro da baía, tornando-a bem rasa, desvalorizando a área
de
pesca que sua família tem – até então era considerado uma das melhores
área
de pesca - obrigando seu pai a pescar na área dos outros pagando
taxas caras.
Somado a isso, os incontáveis cardumes de arenque de
pacífico que todo ano passava no mar da região – era por isso que a
cidade era
conhecido como gporto de maior volume de pesca de arenque do Hokkaido
- foi diminuindo drasticamente, afetando ainda mais a situação
econômica dos pescadores da cidade, inclusive a da sua família.
Sua família continuou lutando mesmo assim, todos
unidos e com muito
trabalho, mas as coisas foram se piorando a cada ano.
Mas você sempre foi uma pessoa atenciosa, carinhoso e também possuidor
de muita coragem, não conseguiu
ficar olhando de braços cruzados. Tomou a decisão de batalhar também
para proteger a sua família. Não tinha vergonha nem receio em se
mergulhar de cabeça numa profissão que nunca tinha exercido até então.
O calor do verão, frio congelante do inverno, as ondas do mar e os
árduos trabalhos no meio dos
pescadores mau educados e brutos transformou você em um homem forte,
musculoso e
de corajoso.
- Nem mesmo na cidade de Iwanai, que têm muitos
pescadores
fortes, não há quem ganha de mim em questão de força muscular!
Você disse isso com tanta simplicidade. Vendo seu
porte físico em frente dos olhos, não tem como duvidar das suas
palavras.
Os dez anos que passaram ajudando o sustento da sua
família não foi curto. A maioria das pessoas que passariam por situação
semelhante, certamente perderia a coragem de sair do fundo do poço que
cairam. Se a gente olhar pelo mundo, certamente encontraremos centena
de
milhar ou milhões de pessoas que possuem talentos artísticos
singulares, que por falta de coragem passam em vão a vida e morrem
sem realizar nada significante. Isso, com certeza, é tragédia, é
absurdo.
Mas, quem levantaria a voz para
questionar ou criticar uma sociedade que sempre foi assim? Esses
absurdos, são os fardos que lamentavelmente cada um de nós temos que
carregar nas costas. A única coisa que podemos fazer, é ser solidário,
respeitar essas pessoas talentosas que, apesar de não terem
oportunidades para explorarem seus talentos artísticos, têm que lutar
para se sobreviver, exercendo trabalhos comuns. É lamentável, mas
essa é a realidade da vida, o verdadeiro aspecto do nosso mundo.
Os dez anos que deu duro para sustentar a sua
família –
esse tempo, repito a dizer, de jeito nenhum foi curto – mas, mesmo
assim, você não
abandonou a sua paixão pela arte que queimava dentro do seu coração, ou
melhor
dizer, não conseguiu abandonar sequer um instante.
Mesmo para o dia dia tão atarefada de pescador, tem
alguns
dias por ano que não tem nada a fazer, as vezes por mal tempo, ou as
vezes por tempestade,
etc.
Nessa hora, você pega um caderno de desenho que você mesmo fez
juntando folhas de desenho comprado no bazar (o mesmo que os alunos da
escola fundamental usam) e encadernado com barbante e um lápis, enfiava
no bolso do kimono encardido e com escamas secos de peixe grudado e
saia da casa como se fosse alguém que não tem destino certo para onde
ir.
- As pessoas que me viam eu observando quieto por longas horas as
montanhas, diziam que eu era esquisito, mas quando eu fazia isso, eu
podia esquecia da realidade, da vida dura. Eu não me lembro bem quem
era
escritor, mas tinha um romance publicado numa revista com título gO
Amor Saqueia Sem Hesitaçãohiˆ¤‚Í’D‚¤j. Neste romance, o escritor dizia que,
quando uma pessoa ama outra, leva tudo que a outra tem. Bom, apesar que
mesmo que eu queira amar alguém desse jeito, em quanto fico apreciando
as montanhas jamais surge uma vontade de amar alguém, pois as montanhas
são muito mais atraentes.
E para expressar esse sentimento,
desenhava no caderno, mas sinceramente, são mal desenhados. Realmente é
muito difícil de desenhar bem as montanhas. Se tiver alguém que desenha
bem, eu queria ver, mas acho que não existe não.
Se pudesse desenhar num dia de sol, bem que eu
gostaria de desenhar com
toda minha força, mas sou muito atarefado com o trabalho e não tenho
tempo para isso. E, mesmo que consiga um tempo, acho que vai ser
difícil para mim, pois o jogo de tinta para pintura que eu tinha, eu
dei para um
amigo que gosta de pintar, na ocasião em que eu ia embora para minha
cidade natal,
portanto, eu não tenho, mas para mim, que ainda sou principiante, seria
um desperdício comprar tintas caras. Seja mar,
ou seja montanhas, aqui a gente encontra excelentes motivos naturais,
mas eu ainda não tenho capacidade para representar bem em cima do
quadro.
A maneira como você me contou essa história também
ficou marcado
no meu coração. Quando me contou isso, você estava sentado de pernas
cruzadas e segurando as canelas das pernas com as suas mãos, como se
esmagassem e falava calmamente, de voz grosso, mas contendo as emoções
por dentro do seu coração.
A tempestade de neve não havia sessado, mesmo depois
que nós deitamos no quarto após conversarmos até uma hora da madrugada.
Foi uma noite em
que tanto eu como você não conseguíamos dormir bem.
Fiquei pensando
sobre você – uma pessoa que mesmo sendo pisoteada inúmeras vezes por
intempéries da vida, nunca perdeu o coração gentil. Um homem possuidor
de
um físico robusto como o de guardião Nioh (m‰¤) e coração sensível
como o de uma garota.
Ver essas qualidades ímpares em você era uma
coisa mais fascinante do mundo.
Parece que a sua existência tornava a vida
mais alegre. E ao mesmo tempo fiquei pensando sobre meu trabalho –
mesmo me esforçando ao máximo, ainda não conseguir descobrir o meu
verdadeiro talento – isso me provocava sentimentos de revolta e
agressividade e como consequência disso, começava buscar prazeres
temporários ou até mesmo interesse em ver com olhar distorcido sobre as
coisas da vida, que empobrecia ainda mais o meu coração.
Isso me trazia
arrependimentos. Em fim, a história da sua vida contada naquela noite,
me fez perceber o seu grande desenvolvimento como um ser humano, sua
humildade e persistência em busca do caminho da arte. Esses fatos me
trouxe uma forte emoção.
–¾
Ž¡Žž‘ã‚Ì‹™Žt‚̉Ƒ°@ Família de pescador da
Era de Meiji (1868-1912)
No dia seguinte, logo de
manhã, a tempestade de neve ainda não havia
cessado, mas você disse que gNão posso ficar acomodado aquih, e
sem dar
ouvido aos conselhos dos meus empregados, colocou as botas
de couro nos pés sem meias, vestou-se de casaco e em pouco
minutos já estava pronto para partir no meio da tempestade de neve.
Quem
mora na terra do norte e passa o inverno que é extremamente frio, fica
muito feliz quando recebe as visitas. Os meus empregados também
devem ter ficado feliz por receber você como vistante, cuidaram muito
bem de você e todos eles estavam aí, próximo a porta de entrada da casa
para despedi-lo. Eles te falaram para colocar capuz na cabeça por causa
da neve, mas você nos despediu com aquela voz grossa e saiu para fora
abrindo a porta envidraçada sem colocar capuz.
Eu bati de leve o vidro da janela para
derrubar a neve que havia
grudado no lado de fora e fiquei acompanhando você se afastando no meio
a neve. Você continuou a caminhar sem colocar
capuz e o vento com neve soprava direto na sua cara. Você
andava na estrada com a neve acumulada que chegava até altura da
cintura. A sua
imagem, de cor preta – do casaco que usava – as vezes quase sumia
devido a vento com neve que soprava, foi se afastando cada vez mais até
que
desapareceu completamente no meio do branco.
Depois que você partiu, a sala de administração da
fazenda ficou tão
silencioso e sem graça como sempre foi, cercado de neve por fora.
Deixei o sítio e fui embora para Tokyo, uns três ou quatro
dias depois que você apareceu.
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All
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