Capítulo 2
A
FÁBRICA DE
SEDA
Quando Budori acordou,
ouviu-se uma voz monotona logo acima da sua cabeça.
- Até
que em fim acordou! Você ainda acha que está vivendo a crise de fome? Não quer
levantar e me ajudar?
Gusko observou bem o homem. Ele usava um chapéu marrom
de forma de cogumelo, vestia um casaco por cima da
camisa e balançava na sua mão, alguma coisa feito
de arame.
Budori perguntou:
- A
crise de fome já passou? O que é que o senhor quer que
eu ajude?
- Ajude a colocar rede!
- Vai armar a rede aqui?
- Sim, vamos colocar a rede aqui.
- Vai
colocar a rede para quê?
- Vamos criar
bichos-de-seda.
Olhando para a árvore de castanha à frente, viu dois
homens subindo a escada encostada no tronco da árvore e
pareciam que jogavam as redes e puxavam
pra lá e pra cá para posicionar melhor . Mas não
enxergava nem fio e nem rede.Gusko
disse:
-
Dá para criar bicho-de-seda com aquilo?
- É lógico que dá ! Mas que menino tolo! Não fale
bobagem. Por que eu iria abrir
uma fábrica de seda onde não conseguiria criar bichos-de-seda? Muitas pessoas, inclusive
eu, têm sustentado a vida com esse negócio.
Budori
conseguiu apenas responder com voz
rouca.
-
Ah é...
- E além
disso, eu já comprei toda
esta floresta. Portanto, você pode ficar e
me ajudar, ou então, se não está
a fim de me ajudar, pode sair daqui e ir
embora. Mas acho que você não conseguiria e ncontrar alguém que lhe
desse comida em nenhum lugar...
Gusko ficou com uma tremenda
vontade
de chorar, mas se segurou e disse:
- Então
eu te ajudo. Mas não sei como colocar a
rede.
- Isso eu te ensino. Me observe bem.
O homem
pegou as duas extermidades da coisa parecida com cesta de arame que estava
carregando e esticou para os
lados.
- Quando
você estica assim, essa coisa
vira uma escada.
O homem
foi andando com passos largos até uma árvore de castanha à sua direita e encostou a escada num galho
grosso.
- Pronto. Agora é a sua vez. Suba a escada com a rede na mão.
O homem
entregou essa coisa esquisita parecida com uma bola
feita de arame a Budori.
Gusko pegou e foi subindo a escada,
mas os degraus da escada eram tão finos que
pareciam que iam cortar os pés e as mãos dele.
- Suba mais, mais alto, mais
alto! Daí você joga por cima da
castanheira essa bola que eu te dei. Aí está bom, jogue alto agora!
- O que foi, está tremendo? Você é medroso?! Jogue, jogue, vai, jogue agora!
Budori não
teve outra escolha e jogou a coisa parecida com a
bola para bem alto com toda força. De repente sentiu que o sol ficou preto
e Budori caiu de cabeça para abaixo.
Quando percebeu, estava nos braços do homem.
Ele colocou o Gusko no chão
resmungando.
- Você é
um moleque medroso e frouxo! Se eu não tivesse te
pegado, a sua cabeça já estaria arrebentada!
- Eu
salvei a sua vida, jamais esqueça disso. A partir
de agora, não deve faltar com
respeito a mim. Agora suba na outra árvore
e jogue a bola.
Continue trabalhando que daqui a pouco lhe darei a
comida.
O homem entregou aoBudori mais aquelas
coisas parecidas com a bola de arame.
Budori carregou a escada na próxima árvore, subiu até alto
e jogou a coisa parecida com a
bola por cima da árvore.
- Isso,
agora está ficando melhor! Olhe, há muitas bolas para
jogar. Aqui não tem moleza, continue
trabalhando . Sendo pé de castanheira, qualquer
um serve.
O homem
tirou do seu bolso umas dez bolas de arame, entregou para Budori e foi embora.
Budori
jogou mais três bolas, mas ficou muito exausto e sem fôlego. Ele não agüentava mais continuar e resolveu
ir voltar para sua casa.
Mas, quando chegou na
casa e viu, ficou surpreso, pois havia instalado
uma chaminé de manilha
vermelha no telhado da sua casa e ainda por cima,
na porta havia pendurado uma placa escrito:
E de dentro da
fábrica apareceu aquele homem fumando um cigarro.
- Coma
este aqui, menino! E trabalhe mais um pouco até
escurecer.
- Para mim já chega! Eu quero entrar na minha casa.
- A casa
que você está falando é esta? Esta não é mais a sua casa, agora é
minha fábrica de seda. Eu já comprei todas as
propriedades daqui, a sua casa,
a
floresta,
tudo! São todas minha agora.
Ao ouvir isso, Budori
sentiu profundamente inconformado,
mas n ão havia nada que ele podia
fazer. Budori comeu o pão cozido com vapor que
homem deu e depois foi jogar mais
dez bolas.
Nessa noite, Budori dormiu encolhido num canto da sua antiga casa, que agora
havia-se
transformado numa
fábrica de seda.
Aquele
homem ficou perto da lareira, conversando com outros homens e bebendo algo até altas horas da noite.
Na manhã seguinte, Budori acordou cedo e foi à floresta para repetir o mesmo trabalho do dia anterior.
Após um
mês de trabalho , quando todas
as castanheiras da floresta estavam cobertas de redes, o
homem que é dono da fábrica, mandou pendurar 5 ou
6 tábuas cheia de coisas parecidas com o painço colado na superfície em cada
pé de castanha.
Depois de algum tempo, começaram a brotar folhas novas nas castanheiras e
a floresta toda ficou verde. Aí, então, começaram a sair um monte de pequenas larvas
verdes-claras das tábuas penduradas e começaram subir nas castanheiras através dos fios.
Agora, o trabalho de Budori e os demais meninos era
cortar as lenhas.
Todo dia eles
cortavam lenha na floresta, carregavam e empilhavam ao redor da
fábrica de seda.
E quando as pilhas de lenha ficaram tão altas como pequenas montanhas,
todas as castanheiras desabrocharam suas flores meio azulados e
longos.
Daí,
os bichos que apareceram das tábuas
também mudaram a sua forma e a côr, idêntica às flores de castanheira.
Os bichos foram devorando sem piedade todas as folhas de castanheiras da floresta
.
Quando os bichos acabaram de comer as
folhas, eles começaram a colocar casulos grandes de côr amarela sobre as redes.
Então, o homem que é dono da fábrica de seda,
aos gritos mandou os meninos
recolherem os casulos na cesta e em seguida, mandou colocar os casulos nas panelas com
água
fervente.
E girando a dobadoura com a mão, começou extrair fios. Noite e
dia, os homens continuaram trabalhando na extração dos fios, girando as tres
dobadouras.
Quando
os novelos de fios amarelos chegou a ocupar quase a metade da
fábrica, monte de mariposas grandes brancas c omeçaram a sair voando dos casulos
recolhidos e colocados nos cestos fora da fábrica.
O dono da fábrica de seda começou a trabalhar também na extração dos fios, com cara parecida com a do diabo. Ele trouxe também quatro
pessoas do campo para ajudar. Mas as mariposas começaram a sair cada vez
mais, tanto que a floresta ficou cheia de
mariposas brancas voando, como se fossem neve branca voando.
E então um dia, chegaram sete carroças e carregaram todos os novelos de fios amarelos.
Depois de carregadas, as
carroças começaram a voltar para a cidade.
Cada carroça era acompanhado
por um homem. Quando a última
carroça estava partindo, o dono da fábrica de seda
disse ao Budori:
- Ei, menino! Lá dentro
da casa tem comida suficiente para você viver até a próxima
primavera. Até lá, você fica aqui e toma conta da floresta e da minha
fábrica.
Depois, dando
risada e acompanhando a carroça e foi embora.
Budori ficou parado no lugar, deixado para trás sozinho.
A sua antiga casa estava imunda e bagunçada, como se uma tempestade
tivesse passado por ela. E a floresta estava
totalmente
devastada como se tivesse passado por um incêndio
florestal.
No dia
seguinte, Budori começou a limpar o interior de sua casa
e seus arredores .
No lugar onde o dono da fábrica de seda sempre ficava sentado,
ele encontrou uma caixa de papelão velha.
Dentro
da caixa havia um monte de livros.
Os livros eram de assuntos
difíceis, c om diversos desenhos de
bichos de seda e desenho de máquinas. Tinha também alguns
livros com desenhos e nomes de vários tipos de árvores e plantas.
Havia também livros que nem conseguia entender o conteúdo.
Budori passou o inverno inteiro tentando
copiar os textos e desenhos dos
livros no caderno.
Q
uando chegou a primavera e aquele homem apareceu com seis ou sete novos empregados.
Ele estava com aparência de rico. No
dia seguinte começou o mesmo trabalho do ano passado.
Então as redes foram todas recolocadas e
as tábuas amarelas foram novamente penduradas, os
bichos de seda subiram nos galhos e Budori e os meninos começaram a preparar a lenha de novo.
Mas, numa certa manhã, quando Budori e os outros estavam
cortando as árvores para serem
utilizadas como lenha, de repente o chão começou a sacudir e depois ouviram um
estrondo bem distante .
Depois de algum tempo, o sol escureceu, começou a cair cinzas finas por toda parte
e a floresta ficou toda branca de cinzas
vulcanicas.
Budori e os outros estavam agachados embaixo da
árvore devido ao susto, quando o dono da fábrica veio correndo
afobadamente e disse:
- Ei,
pessoal, já era! O vulcão entrou em erupção! Todos
os bichos de seda morreram por causa das cinzas do vulcão. Não temos mais nada para fazer aqui. Todos voltem para suas casas!
Depois virou para Budori
e disse:
- Budori, se você quiser ficar aqui pode
ficar, mas desta vez não posso
te deixar a comida. Além
disso, permanecer aqui será
muito perigoso. Eu acho melhor você sair daqui e ir ao campo e
tentar achar algum jeito de sobreviver por lá.
Mal acabou de falar, o homem já saiu correndo. Quando Budori voltou par a fábrica,
já não tinha mais ninguém. Desanimado, Budori seguiu
as pegadas que os outros deixaram sobre as cinzas do
vulcão em direção ao campo.
(continua...)
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Esta é uma tradução da obra "Gusko Budori
no Denki(グスコーブドリの伝記)" do escritor japonês Kenji Miyazawa
(1896-1933), feita por alunos do Curso de Formação de Tradutores da
Escola Modelo de Língua Japonesa de Mogi das Cruzes. A obra original
em japonês poderá ser lida aqui.
Alunos que colaboraram na
tradução: Bruna Eimy Sinowara, Edy Daiguen Nakamura,
Paula Tahara Pereira,
Rafael Yukio Matsui
Coordenação e Revisão feita por: Prof. Kenji
Ogawa
Mogi das Cruzes, 29 de dezembro
de 2014
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