Capítulo 3

CAMPO PANTANOSO   

蛾

  
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   Budori caminhou praticamente metade do dia em direção à cidade, no meio da floresta coberta de cinzas vulcanicas . Quando o vento soprava, as cinzas caiam das folhas das árvores que até pareciam fumaça ou mesmo uma tempestade de neve.
Porém, na medida que foi se aproximando cada vez mais próximo ao campo, as cinzas acumuladas no chão foi se diminuindo, começou enxergar também as folhas verdes das árvores e marcava mais os rastros dos pés no caminho.
    Quando em fim conseguiu saiu da floresta, Budori arregalou seus olhos e ficou espantado, pois surgiu uma panorama de tirar o folego na sua frente. Desde onde ele estava em pé até as nuvens brancas que enxergavam no horizonte, parecia que havia extendido milhares de tapetes quadradinhos de cores rosa, verde e cinza.
Aproximando mais perto e olhando bem, os que pareciam tapetes quadrados cor de rosa eram flores  cor de rosa baixinhas que enchiam o quadrado e haviam monte de abelhinhas voando apressadamente de flores para flores. E os quadrados verdes eram plantas que carregavam pequenos cachos e os de cor cinza eram cor do pântano raso. 
Todos os quadrados estavam separados por barragens baixas e estreitos. E ali, as pessoas trabalhavam, usando cavalos para arar  ou para misturar a lama

    Budori foi andando por algum tempo em cima da barragem onde havia um caminho, quando viu duas pessoas discutindo no meio do caminho em voz alta.
O homem de barba vermelha do lado direito disse:
  - Não me importo o que as pessoas dizem de mim, eu vou tentar a sorte!
O outro de chapéu de palha branca e mais alto respondeu :
  - Não fique tentanto sorte! Não adianta você colocar tanto adubo, pois você pode até colherbastante palha, mas não irá conseguir colher nenhum grão a mais!
  - Não, a minha previsão é que esse ano fará um calor três vezes mais do que os anos normais. Por isso, eu vou conseguir colher triplo da safra neste ano! 
  - Pare, pare e pare!
  - Não, não vou parar. Eu já aterrei todas as flores, agora vou colocar 60 sacos de  feijões bolinha e depois 100 cargas de cavalos de esterco de galinha. Tenho tanta coisa para fazer e eu estou muito atarefado. E stá até faltando mão de obra para mim. A essa hora, se possível, até mesmo cipó de vagem seria bem vinda, se cipó pudesse me ajudar...
Ao ouvir isso, Budori se aproximou deles e falou:
  - Me contrate então, por favor!
Os dois parecem que foram pego de surpresa. Ficaram olhando para Budori por um tempo, com mão no queixo, mas de repente o homem de barba vermelha começou a dar gargalhada alto e disse:
  - Muito bem, eu vou te ensinar como trabalhar com cavalo, venha comigo.
Ao sair do lugar, disse para homem alto de chapéu branco:
  - Me veja o que eu vou conseguir em outono!
Depois voltou a falar para Budori:
  - Realmente eu estou precisando de toda ajuda, até mesmo do cipó de vagem, se for possível.
E foi andando de passo rápido na frente do Budori.
Lá atrás, o homem de chapéu branco ficou olhando para os dois e murmurava:
 - Não quer ouvir conselho do velho? Depois vai-se arrepender!

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    A partir desse dia, Budori, começou a trabalhar no campo pantanoso todo dia, usando cavalo e misturando as lamas.
A cada dia que passava os quadrados rosas e os quadrados verdes foram sendo transformados em lamas. Os cavalos ao trabalharem, muitas vezes jogavam lama para trás com suas patas e sujavam o rosto dos homens que ficavam atráz.
    Terminando um campo pantanoso, logo entrava no próximo.
O dia parecia não acabar nunca, demorava muito para acabar o dia. Budori perdia noção da realidade, não sabia mais se estava andando ou parado. As vezes sentia que a lama parecia ser de caramelo e a água parecia ser sopa.
O vento soprava constantemente criando ondas nas superfícies das águas do pântanos próximos, que pareciam escamas de peixe e mudava para cor de estanho, as cores das águas dos pântanos distantes.
No céu os nuvens que pareciam ser agridoce, atravessavam lentamente o céu, e isso lhe causava inveja.
   D
epois de passar aproximadamente uns 20 dias, finalmente todo campo pantanoso se
transformou em completo lama
.
Então, na  manhã do dia seguinte, o patrão do Budori, aquele homem de barba vermelha, apareceu com jeito muito agitado. Também pudera, pois era dia que iniciaria o plantio no campo pantanoso. 
O plantio começou com a ajuda de agricultores dos campos pantanosos da vizinhança
Todos t
rabalharam duramente e encheram todo o campo pantanoso com as mudas de oriza, que tinha aparência que lembrava lança, só que cor era verde.
    O trabalho de plantio terminou em aproximadamente 10 dias. Depois era vez de Budori e os demais empregados irem ajudar no plantio de oriza nos campos pantanosos dos agricultores  que vieram ajudar  seu patrão
Quando finalmente terminou o trabalho de pl antio de todos os campos, já estava na hora de começar o trabalho de arrancar ervas daninhas que haviam crescido no meio das orizas.
As mudas de oriza plantadas no campo pantanoso do seu patrão haviam crescidos bastante e as cores deles haviam-se mudado para quase preta, porém as plantação de oriza das vizinhas ainda estavam com uma coloração verde mais claro, sendo bem notável para qualquer um que olhasse de longe, a diferença no crescimento da oriza do seu patrão comparando com os da vizinhança.

沼畑の石油



   O trabalho de arrancar erva daninha terminou em 7 dias. Daí, eles tinham que ir ajudar de novo os campos dos agricultores das vizinhanças, desta vez é claro, para arrancar ervas daninhas.
    Mas numa certa manhã, quando o patrão estava andando junto com o Budori para observar sua plantação - ritual sagrado e diário dele -  de repente ele soltou um grito e ficou paralizado.
Os lábios dele haviam mudado de côr - de rosado para azul – e ficou vendo a plantação de oriza com um olhar vago.
  - Doença...
Depois de longo silêncio, o patrão falou com uma voz fraca. Budori perguntou:
  - Senhor está doente?
  - Eu não, a oriza, veja. 
O patrão apontou seu dedo para os pés de oriza da frente
Budori agachou-se e foi verificar de perto. Notou que as folhas da oriza tinham manchas vermelhas nas suas folhas, o que não tinha visto antes. 
    O patrão começou andar de novo mais deu para perceber que ele estava muito abatido. Depois de dar uma volta na  sua plantação sem dizer uma palavra, foi andando em direção à sua casa. 
B
udori o seguiu muito preocupado.
Chegando em sua casa, o patrão pegou uma toalhinha, molhou com água fria, torceu e colocou na sua testa e se deitou no chão.
Logo depois, a esposa do patrão entrou correndo na casa.
  - É verdade que a nossa plantação de oriza pegou doença?
  -
Sim. Acho que já não tem mais jeito.
  -
Não tem jeito mesmo?
  -
Creio que não. É a  mesma doença que pegou 5 anos atrás.
  -
Está vendo só? É por isso que eu falei tanto para parar de ficar apostando. O velho também falou tanto...
A esposa do patrão começou a soluçar.

   Daí, de repente, parece que
o patrão criou ânimo. Ele se levantou do chão e exclamou: 
  -
Caramba! Eu sou um dos maiores agricultor de Ihatov, não posso ser derrotado por causa de uma doença! Me vejam só, pois no ano que vem eu vou conseguir recorde de safra!
E depois virou para Budori e disse:
  - Budori, desde que você chegou para me ajudar, acho que nunca teve  um tempo para dormir direito. Mas agora você pode dormir à vontade. Durma quanto quiser, 5 dias ou 10 dias, tanto faz, durma até dizer chega!
E ainda continuou falando. 
  - Depois disso, vou te mostrar um truque interessante no meu campo pantanoso. Mas, fique preparado, pois neste inverno nós vamos comer soba(*1). Espero que você goste. 
   Então o patrão pegou o seu chapéu e saiu para fora da casa.
Budori foi até o depósito e tentou dormir. Mas a cabeça dele só pensava na plantação de oriza que pegou a doença. Sem conseguir dormir, resolveu ir até o campo pantanoso.
   Chegando lá, ele avistou patrão dele sózinho, olhando para a plantação de oriza com os braços cruzados.
Budori percebeu que o campo pantanoso estava cheia de água e os pés de oriza só estavam com suas pontas fora dágua. E na superfície da água estava espalhado petróleo que refletia reluzentemente o brilho do sol.
O patrão viu Budori e disse:
  -
Estou tentando matar a praga com o calor do vapor.
  -
Calor do vapor do petróleo mata a praga?
  - Até gente, se for mergulado no petróleo da cabeça para baixo morre. Nenhuma praga aguentaria petróleo!
  E ele respirou fundo e encolheu seu pescoço.
Nessa hora, eles viram o agricultor do campo pantanoso de baixo vinha correndo com cara vermelho de tão furioso.
O homem chegou meio ofegante e gritou:
  - O que vocês estão fazendo aí ?! Não estão vendo que o petróleo que vocês jogaram aí está vindo tudo para minha plantação?
O patrão do Budori responder bem calmo.
  -
Por que eu joguei petróleo na minha plantação? É porque ela pegou a praga!
  -
Então, por que vocês deixam vir petróleo na minha plantação de oriza?
  -
Isso porque a água sempre corre de lugar alto para baixo. E o petróleo vai junto com a água.
  -
Então, por que vocês não fecharam a entrada de água para meu campo?!
  -
É porque aquela entrada de água não é minha, é sua!
  O fazendeiro vizinho ficou louco de raiva, foi entrando no meio do campo pantanoso do patrão de Budori e tampou a entrada de água para seu campo.
O patrão deu uma risada e disse ao Budori.
  -
Aquele homem é um cara difícil de lidar. Se eu fechasse por minha conta a saída de água para o campo p antanoso dele, com certeza ele iria reclamar. Por isso, eu usei a cabeça e fiz com que ele mesmo fechasse. Dessa maneira, a minha plantação ficará inundado até a ponta  nesta noite mesmo. Bem, por ora está tudo resolvido, agora, vamos embora.
E foi andando com passos leves em direção à casa.

   Na manhã seguinte, o Budori foi de novo até a plantação de oriza junto com o seu patrão. O patrão pegou uma folha de oriza que estava submerso na água e ficou observando, mas sua feição era de decepcionado.
No dia seguinte foi mesma coisa, logo de manhã foi até a plantação e olhou bem a folha da oriza e ficou de novo com cara de decepcionado. No terceiro dia foi a mesma coisa, no quarto dia também foi igual e quando chegou no quinto dia, ele finalmente parece que decidiu alguma coisa e disse ao Budori:
  - Budori, acho que chegou a hora de semear soba(*1). Vá até aquela entrada de água do campo pantanoso do vizinho e quebre a tampa.
Budori foi até a entrada de água do vizinho e fez o que seu patrão lhe mandandou.
A água misturado com o petróleo foi invadindo rápidamente a plantação do como um avalanche. Budori pensou:
Logo aquele homem deve aparecer de novo furioso...”


オリザの穂



   D ito e feito, aquele homem, o dono do campo pantanoso de baixo apareceu por volta do meio dia com um enorme foice na mão e gritou:
  - Ei, como é que vocês deixam petróleo escorrer na minha plantação?
Mas desta vez o patrão respondeu com voz grossa:
  - E qual o problema em deixar escorrer o petróleo?
  - Não percebe que as minhas orizas vão todas morrer?
  - Antes de se preocupar se as suas orizas vão morrer ou não, olhe nas minhas orizas. Hoje faz 4 dias que estão debaixo de petróleo até a ponta. Apesar disso, continuam vivos. Essas que ficaram com as folhas vermelhas são os que pegaram a doença e as que estão mais firmes e fortes, estão assim por causa do petróleo que coloquei. O petróleo que está escorrendo na sua plantação, vai passar apenas nos pés, e acho que até será bom para sua plantação.
  - Então o petróleo vai servir como adubo?
Parece que a irritação do fazendeiro diminuiu .
  - Se o petróleo vai servir como adubo ou não eu não sei, mas sei que é óleo.
  - É... o petróleo é óleo mesmo!
O fazendeiro recuperou totalmente o seu humor e começou até rir.
O nível da água foi baixando rápidamente e agora o raiz da oriza ficou exposta e visível, mostrando as manchas vermelhas que pareciam estar queimadas.
- Bem, nós já podemos cortar a  oriza!
Disse o patrão rindo. E junto com Budori, começaram a cortar os pés das orizas, e logo em seguida plantaram as sementes de soba e cobri-las com terra. 
E como o patrão disse, aquele ano eles comeram somente soba. 

   Quando chegou a primavera o patrão disse:
  -
Budori, a área de plantação de oriza deste ano diminuiu para um terço do normal, por isso o trabalho será muito mais fácil. Por isso, eu queria que você estudasse no tempo que sobrar, com os livros que o meu falecido filho estudou. E me ajude a ter ótima safra de oriza com o estudo, para mostrar para os caras que riram de mim dizendo que eu sou um aventureiro que só vive apostando na sorte.
  O patrão entregou para Budori um monte de livros.
Budori começou a ler os livros quando tinha tempo de folga. Entre vários livros que leu, ele achou muito interessante o livro escrito por um cientista chamado Dr. Kubo e por isso ele leu várias vezes.
Ficou sabendo também que esse cientista lecionava na cidade de Ihatov e Budori ficou com vontade de assistir as aulas dele.

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   O esforço no estudo do Budori logo mostrou os seus resultados.
Mais ou menos na mesma época do ano passado quando a plantação de oriza pegou a doença, novamente as orizas foram ameaçados de pegar a mesma doença .
Mas, seguindo conhecimento que Budori obteve através de estudo dos livros, eles espalharam cinza das árvores misturados com o sal e conseguiram evitar que a praga  espalhasse por  toda a plantação.
  Quando chegou mês de agosto, o campo pantanoso ficou toda coberta de pequenas flores brancas de oriza. Com o passar dos dias, as flores brancas foram se transformado em cachos azuis claros e quando passava brisa, incontáveis cachos azuis claros carregados de grãos de oriza balançavam como ondas azuis.
   O patrão ficou empolgadíssimo. A todas as pessoas que vinham ele se gabava:
  - Veja só, eu falhei durante 4 anos apostando com a oriza, mas esse ano irei recuparar todo que perdi até agora, pois vou colher uma safra que equivale a safra de 4 anos numa vez só. Isso é muito emocionante!
    Mas no ano seguinte, infelizmente, a coisa não foi a mesma coisa.
Pois desde a época de plantação, parou de chover e o rio ficou seco, o campo pantanoso começou a secar e até rachar chão e a colheita de outono mal deu para os alimentar as pessoas durante o inverno. 
   O patrão e Budori, ansiaram que no próximo ano melhorasse a situação, mas foi o mesmo desastre.
Isso se repetiu ano após ano. O patrão começou até a ter dificuldades para comprar adubo.
Ele teve que vender seus cavalos e de pouco em pouco foi vendendo também o campo pantanoso. 

   N um certo dia de outono, o patrão de Budori, com muita angústia em sua voz e disse:
  - Budori, eu já fui um grande agricultor de Ivatov e ganhei também bastante dinheiro. Mas por causa de repetidos frios intensos e as secas prolongadas dos ultimos anos, a minha propriedade de campo pantanoso se reduziu para um terço do que eu tinha antes, e já não tenho nem mais condição de comprar adubo para próxima plantação. E isto não está acontecendo só comigo. Acredito que com situação que estamos, não há muitos agricultores no  Ivatov que consiga comprar adubo para ano que vem.
  - Desse jeito, não sei quando poderei te remunerar pelo trabalho que você fez por mim. Por outro lado, eu não acho justo, você que é tão jovem, ficar só trabalho comigo na lavoura. Por isso, leve isso e vá buscar sua sorte em outro lugar.
E ele entregou nas mãos do Budori, um saquinho de moedas, roupa nova de linhaça azul marinho e um par de sapato.
    Ao ouvir palavras e ver as coisas que seu patrão lhe deu, Budori até esqueceu os dias de trabalhos árduos e ficou emocionado. Pensou até em continuar trabalhar com ele, mesmo sem remuneração, mas pensando bem, realmente não tinha mais nada para Budori fazer ali.
Budori agradeceu varias vezes ao patrão e deixou para trás o campo pantanoso que trabalhou por 6 anos e foi caminhando até o ponto de ônibus.


Nota: *1 macarrão japonês feito à base de farinha de trigo serraceno.

(continua...)


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 Esta é uma tradução da obra "Gusko Budori no Denki(グスコーブドリの伝記)" do escritor japonês Kenji Miyazawa (1896-1933), feita por alunos do Curso de Formação de Tradutores da Escola Modelo de Língua Japonesa de Mogi das Cruzes. A obra original em japonês poderá ser lida aqui.

 Alunos que colaboraram na tradução:   Bruna Eimy Sinowara, Edy Daiguen Nakamura, Paula Tahara Pereira,
                                                             Rafael Yukio Matsui

Coordenação e Revisão feita por: Prof. Kenji Ogawa

Mogi das Cruzes, 10 de março de 2015

 Site Oficial da Escola Modelo de Língua Japonesa de Mogi das Cruzes


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