@@ - Será que posso sentar aqui?
Ouviram-se uma voz rouca,
porém gentil, que vinha de trás dos dois rapazes.
Era um homem de
costas curvadas e barba bermelha que vestia um sobretudo marrom meio
desgastado. Ele carregava sacolas de pano branco dividida em
duas, uma na frente e outra atrás do seu ombro.
- Claro, pode
sim.
Giovanni respondeu-o encolhendo um pouco seus ombros. O
homem deu um sorriso e colocou as suas bagagens no compartimento de
malas que fica em cima das
janelas.
Giovanni estava
sentindo uma sensação forte de tristeza e solidão, e ficou olhando
quietamente para o relógio que estava na sua frente, quando tocou um apito
parecido com o de uma flauta de vidro à frente do trem. O trem já estava
começando a mover silenciosamente.
Campanella ficou olhando para o
teto do vagão. Ele estava procurando algo que projetava uma enorme
sombra no chão do vagão. Descobriu que era de um besouros-rinoceronte
preto que estava parado em uma das luzes do teto.
O homem de barba vermelha ficou olhando para Giovanni e
Capanella sorrindo, como se já os conhecesse. O trem começou aumentar
a velocidade e as gramas das
pampas
e o rio apareciam alternadamente pela janela mostrando seus brilhos.
O homem de barba vermelha perguntou
meio receioso para os dois.
- Para onde vocês estão indo?
- Nós
quremos ir até onde der. – Respondeu Giovanni meio envergonhado.
-Isso
é ótimo! Pois este trem vai para qualquer destino.
- E o senhor, vai
para onde?
Campanella perguntou com tom que parecia que estava
provocando o homem de barba vermelha. Giovanni achou engraçado e uma deu
risada.
Um passageiro de chapéu pontudo e que estava com uma
chave grande pendurada na sua cintura que estava sentado
próximo, olhou para eles e deu risada também.
Isso fez com que o
Campanella ficasse vermelho de vergonha, mas até mesmo ele começou a rir
pelo seu próprio tom de pergunta.
Entretanto, parece que o homem
de barba vermelha não se sentiu nenhum pouco ofendido, contraindo as suas
bochechas e respondeu.
- Eu vou
desser daqui a pouco. Sou um caçador de pássaros.
- Que tipo de
pássaros senhor caça?
- Grous, gansos, garças e cisnes brancos.
-
Tem bastante grous por aqui?
- Sim, por aqui tem bastante. Vocês
não estão ouvindo? Estão grasnando já algum tempo.
- Não...
-
Prestem atenção, pois está dando para ouvir agora.
Os dois olharam para cima e procuraram
ouvir atentamente os sons que vinham de fora. Escutaram o som das rodas do
trem passando por cima dos trilhos e o som do vento que vinha passando
entre as gramas de pampas, que parecia som da água fluindo da mina.
-
Como senhor pega grous?
- São grous ou garças?
- Garças! Disse
Giovanni, pensando consigo, gTanto faz, se são grous ou garças...h
- É
muito fácil pegar, pois as garças nascem das areias do Rio Via Láctea
coaguladas. E elas sempre retornam ao rio. Então é só ficar de espreita no
rio e quando as garaças retornam e tentam colocar as suas patas no chão,
você pega elas. Aí, elas ficam durinhos e morrem tranquilas. Depois,
é só prensar como prensamos as folhas.
- O senhor vai prenssar a
garça como uma folha? Então, vai confeccionar uma amostra de garça?
-
Amostra não, todos comem né?
Campanella inclinou a cabeça e disse
-
Que engraçado!
- Não tem nada de engraçado e nem estranho. Vejam
só!
O homem se levantou e tirou as sacolas do bagageiro e começou a
desembrulhar.
- Olhem, acabei de pegar agora pouco.
- Puxa,
realmente são garças mesmo!
Os dois gritaram simultaneamente. Tinha
cerca de dez garças, brancas e brilhantes como aquela cruz branca que
haviam visto há pouco tempo atrás. Elas estavam achatadas com os pés
encolhidos e empilhadas uma sobre a outra como placas de esculturas em
relevo empilhada.
- Eles estão de olhos fechados.
Campanella
tocou levemente com seus dedos os olhos fechados que tinha forma de
lua crescente. Elas também tinham na cabeça aqueles penas brancas
parecidos com lança.
- Viram?
O
caçador de pássaros colocou novamente as garças na sacola e amarrou a
boca da sacola com uma cordinha. Giovanni pensou: "Quem será que come uma
garça em um lugar desses?"
Ele resolveu perguntar.
- A garça é
gostosa?
- Sim, recebo pedido todos os dias, mas os gansos vendem mais.
Os gansos são de melhor qualidade e é bom que não dá trabalho.
Olha!
O caçador de pássaros abriu agora a outra sacola. Havia
gansos com manchas amarelas e meio azuladas brilhando como uma luz,
achatada e empilhados com os bicos amarrados, da mesma forma de
garças.
- Esses aqui já estão prontos. Querem comer um pouco?
O
caçador puxou levemente uma das patas do ganso amarelo. O pé se
soltou sem nenhuma dificuldade, como se fosse feito de chocolate.
-
Toma, experimentem.
O homem ofereceu aos dois depois de dividi-lo em duas
partes. Giovanni deu uma mordida e pensou: "Isso aqui é um doce, como eu
pensei. É mais gostoso que chocolate, mas duvido que haja um ganso desses
voando. Ele deve ser um doceiro de algum lugar por aqui. Mas eu me sinto
muito culpado em comer os doces dele fazendo-o de bobo." E continuou
comendo.
- Comam mais um pouco.
O
caçador ofereceu mais. Giovanni queria comer mais, mas não aceitou e
disse:
- Não, muito obrigado.
Então, o caçador foi agora
oferecer para aquele passageiro de chapéu pontudo e chave grande na
cintura.
- Puxa, o senhor está me oferecendo suas mercadorias?
Muito obrigado!
Ele tirou o chapéu e agradecu.
- Por nada. E
como senhor acha que estão os negócios dos pássaros migratórios este
ano?
- Está maravilhosamente bem. Antes de ontem mesmo, durante o
segundo período do tempo, recebi ligações de vários lugares reclamando por
que a luz do farol estava piscando em intervalos irregulares, mas então
falei para eles, "Não sou eu que faço isso, são os pássaros migratórios
que formam uma banda grande e passam em frente da luz do farol, então
não posso fazer nada! Por isoo, não adianta reclamar comigo seus idiotas,
reclamem para o general que usa uma capa larga, e que tem a boca e as
pernas bem finas! Há há há!
As gramas das pampas
sumiram e entrou uma claridade do outro lado do campo pela
janela.
Campanella perguntou ao caçador, o que deixava-o
curioso.
-Por que as garças são mais dão mais trabalhos?
O
caçador olhou para ele e começou explicar.
- Porque, para comer a
garça, primeiro você tem que deixar ele pendurado durante 10 dias, sob a
luz da água do Rio Via Láctea, ou então, você tem que enterrar a garça por
3 a 4 dias na areia. Só assim, o mercúrio da garça se evapora e
pode ser servido.
- Mas estes daqui não são aves, são doces, não
são?
Campanella parece que estava pensando a mesma coisa que Giovanni e
perguntou.
Quando o caçador de pássaros ouviu isso, parece que
ficou perturbado e disse.
– Opa! Eu tenho que descer aqui!
Ele se levantou, pegou suas bagagens e no instante seguinte havia
desaparecido.
- Ué, para onde será que ele foi?
Os dois se
olharam um para cara do outro.
O faroleiro ficou olhando para os dois
sorrindo e depois olhou para a janela ao lado deles, esticando um
pouco o seu pescoço. Acompanhando o olhar do faloreiro, os
dois olharam para a fora da janela também.
Então, eles viram quele
caçador de pássaros em pé no meio do campo cheia de flores de anaphalis
margaritacea, que emitiam lindas luzes fluorescentes de cores amarelas e
azuis. O caçador de pássaros esticavam seus braços com cara muito sério e
olhava para o céu.
- Oha, ele está lá. Nossa... ele é realmente bem
estranho. Acho que ele vai caçar passáro de novo. Tomara que os pássaros
desçam logo, antes que o trem parta.
Quando Giovanni acabou de dizer,
as garças idênticas às que viram pouco antes na forma de biscoitos,
começaram a descer como flocos de neve, do céu de cor de roxo, gazeando
barulhentamente .
Então, aquele caçador,
com a cara de quem acertou de cheio na aposta, posicionou firme abrindo as
suas pernas em exatos 60 graus e começou agarrar rapidamente as patas
encolhidas das garças e em seguida enfiava dentro do saco de pano.
As garças presas dentro do saco emitiam as luzes
azuladas intermitentes parecidos com o de vaga lume, mas aos poucos as
luzes foram-se enfraquecendo e logo fechavam seus olhos e ficavam
imóveis.
Entretanto, a quantidade de garças que
escapavam das mãos do caçador era bem maior que as que eram caçados. Elas
desciam sobre areias do Rio Via Láctea, e então, as que desciam são e
salvo, mal tocavam suas patas no chão, imediatamente se encolhiam e se
derretiam como neve. Em seguida, se espalharam sobre superfície da areia,
como cobre derretido que acabara de sair do forno.
Ainda assim, por um tempo ainda conseguia-se
distinguir a forma das garças na superfície das areias, mas após emitir
briho por 2 a 3 vezes, se misturava na areia e já não enxergava mais
nada.
O caçador de pássaros pegou cerca de 20 garças e
colocou dentro do saco. Depois levantou repentinamente as duas mãos
para cima, como um soldado que leva um tiro de espingarda e
morre. No instante seguinte, ele desapareceu da vista,
e logo depois ouviram aquela voz até já familiar do caçador bem de
perto, dizendo:
- Que gostoso! Não há coisa mais gratificante que
ganhar dinheiro na medida certa para o seu sustento!
O caçador estava
aí sentado, ao lado de Giovanni, juntando e arrumando as garças que havia
caçado agora pouco.
- Como foi que o senhor veio lá de fora pra cá tão
rápido?
Giovanni perguntou com uma sensação estranha, como se isso
fosse uma coisa comum.
- Como vim pra cá? Isso porque eu quis. Falando
nisso, de onde vocês vieram?
Giovanni ia responder,
mas não fazia nem mais a ideia de onde havia vindo. Campanella também
estava com o rosto vermelho, parecendo que estava tentando lembrar de
algo.
- Ah entendi. Vocês devem ter vindo de longe.
O caçador de pássaros acenou a cabeça como
que tivesse compreendido.
|