História da Imigração Japonesa no Brasil



  A imigracao japonesa no Brasil tem como marco inicial a chegada do navio Kasato Maru, em Santos, no dia 18 de junho de 1908.    
Do porto de Kobe a embarcação trouxe, numa viagem de 52 dias, os 781 primeiros imigrantes vinculados ao acordo imigratório estabelecido entre Brasil e Japão, além de 12 passageiros independentes.
Recem chegados a um país de idioma, costumes, clima e tradição completamente diferentes, os imigrantes pioneiros trouxeram consigo esperanca e sonhos de prosperidade.


Kasato Maru no porto de Santos
笠戸丸の画像


Pré-Imigração
  
  
Embora o Japão tenha enviado seus primeiros imigrantes ao Brasil em 1908, os primeiros japoneses a pisar em solo brasileiro foram quatro tripulantes do barco Wakamiya Maru que, em 1803, afundou na costa japonesa. Os naufragos foram salvos por um navio de guerra russo que, mesmo não podendo desviar-se de sua rota, levou-os em sua viagem.     
  
No retorno, a embarcação aportou, para conserto, em Porto de Desterro, atual Florianópolis (SC), no dia 20 de dezembro, permanecendo até 4 de fevereiro de 1804. Alí, os quatro japoneses fizeram registros importantes da vida da população local e da produção agrícola da época. 
 
Porto de Santos no início do século XX
20世紀初頭のサントス港

                               
Incidentalmente, outros japoneses estiveram de passagem pelo país, mas a primeira visita oficial para se buscar um acordo diplomático e comercial ocorreu em 1880. No dia 16 de novembro daquele ano, o vice-almirante Artur Silveira da Mota, mais tarde Barão de Jaceguai iniciou, em Tóquio, as conversacões para o estabelecimento de um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre os dois paises.      
  
O esforço nesse sentido prosseguiu em 1882, com o ministro plenipotenciário Eduardo Calado, mas o acordo só seria concretizado 13 anos mais tarde. Em dia 5 de novembro de 1895, em Paris, Brasil e Japão assinaram o Tratado da Amizade, Comércio e Navegação.     
 
  
Abertura à Imigração    
  
Entre eventos que antecederam a assinatura do Tratado, destaca-se a abertura brasileira às imigracões japonesas e chinesas, autorizadas pelo Decreto-Lei no 97, de 5 de outubro de 1892. Com isso, em 1894 o Japão envia o deputado Tadashi Nemoto para uma visita em cujo roteiro foram incluidos os Estados da Bahia, do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.     
  
Satisfeito com o que viu, Nemoto manda um relatório ao seu governo e as empresas de emigração japonesas, recomendando o Brasil como país apto a acolher os imigrantes orientais. A partida da primeira leva de japoneses que deveria vir trabalhar nas lavouras de café em 1897 teve, no entanto, de ser cancelada justamente na véspera do embarque.    
               
   Primeiros imigrantes japoneses desembarcando no Santos
サントス港上陸後の移民
            

 O motivo foi a crise do preço que o café sofreu em todo o mundo, e que iria perdurar até 1906. Em 1907, o governo brasileiro publica a Lei da Imigração e Colonização, permitindo que cada Estado definisse a forma mais conveniente de receber e instalar os imigrantes.      
  
Em novembro do mesmo ano, Ryu Mizuno, considerado o pai da imigração, fecha acordo com o secretário da Agricultura de São Paulo, Carlos Arruda Botelho, para a introdução de 3 mil imigrantes japoneses num período de 3 anos. Nessa época, o governador era Jorge Tibirica. Assim, no dia 28 de abril de 1908, o navio Kasato Maru deixa o Japão com os primeiros imigrantes rumo ao Brasil.   

  
O Período da Imigração   
  
Os 781 japoneses recém-chegados foram distribuidos em seis fazendas paulistas. Enfrentaram, porém, um duro período de adaptação. O grupo contratado pela Companhia Agrícola Fazenda Dumont, por exemplo, não permaneceu alí mais que dois meses. As outras fazendas também foram sendo gradativamente abandonadas pelos exóticos trabalhadores de olhos puxados e costumes tão diferentes. Em setembro de 1909, restavam apenas 191 imigrantes nas fazendas que os contratara.   
  
Nao obstante, no ano seguinte, a segunda leva de imigrantes já estava a caminho. E no dia 28 de junho de 1910, o navio Ryojun Maru aportava em Santos com mais 906 trabalhadores a bordo.  Distribuidos por outras fazendas, eles viveriam os mesmos problemas de adaptação dos compatriotas que os antecederam. Aos poucos, porém, os conflitos foram diminuindo e a permanencia nos locais de trabalho, mais duradoura.   

  
Conquistando Espaço   
  
Os primeiros imigrantes japoneses a se tornarem proprietários de terra foram 5 famílias que adquiriram, em fevereiro de 1911, lotes junto a Estação Cerqueira César, da Estrada de Ferro Sorocabana, dentro do projeto de colonização Moncões, criado na época pelo Governo Federal. Essas famílias foram, também, as primeiras a cultivar o algodão.    
 
Japoneses abriam mata para plantar cafe, algodao e outros cultivos    開梱 大木の伐採

Colheita de algodão no interior de São Paulo

綿の収穫

Imigrante japones trabalhando no cafezal コーヒー園で働く女性


 
   Em março de 1912, novas famílias são assentadas em terras doadas pelo governo paulista, na região de Iguape, graças ao contrato de colonização firmado entre uma empresa japonesa e o poder público. Iniciado com cerca de 30 famílias - a maioria proveniente de outras fazendas onde os contratos já haviam sido cumpridos - esse foi um dos mais bem sucedidos projetos de colonizacao dessa fase pioneira.      
  
Nesse mesmo ano, os imigrantes atingiram o Paraná, tendo como precursora uma família procedente da província de Fukushima e que se estabelece na Fazenda Monte Claro, em Ribeirão Claro, cidade situada no norte do Estado. Em agosto de 1913, um grupo de 107 imigrantes chega ao Brasil para trabalhar em uma mina de ouro, em Minas Gerais. Foram os únicos mineiros na história da imigração.      
  
Em 1914, o número de trabalhadores japoneses no Estado de São Paulo já estava em torno de 10 mil pessoas. Com uma situação financeira desfavorável, o governo estadual decidiu proibir novas contratacões de imigrantes e, em março, avisou a Companhia da Imigração que não mais subsidiaria o pagamento de passagens do Japão para o Brasil.     

     Os primeiros imigrantes moravam na casa coberta
                   de sapé e parede de barro
          
                                  土壁とサッペー葺きの家                                


  No entanto, a abertura de novas comunidades rurais que utilizavam a mão-de-obra existente continuou. Por essa época, ocorreu também um dos episódios mais tristes da história da imigração, quando dezenas de pessoas que haviam se instalado na Colônia Hirano, em Cafelândia, morreram vítimas da malária, doença então desconhecida para os japoneses.   

  
Adaptação Cultural e a Segunda Guerra Mundial   
  
Com o aumento do número de colônias agrícolas japonesas, que nesse período se expandiram, principalmente, em direção ao noroeste do Estado de São Paulo, começam a surgir, também, muitas escolas primárias destinadas a atender os filhos dos imigrantes. Em 1918, formaram-se as duas primeiras professoras oficiais saídas da comunidade, as irmãs Kumabe, pela Escola Normal do Rio de Janeiro. Em 1923, a Escola de Odontologia de Pindamonhangaba formou, também, o primeiro dentista de origem japonesa.     


   
Imigrantes japoneses na colheita de pimenta de reno em Tomeaçú (PA) e  grãos de pimenta do reino

    トメアスーの胡椒作り                  ピメンタ・ド・ヘイノ粒



Plantação de banana na região de Iguâpe
イグアッペのバナナ栽培

                                                       
Essa presença crescente de um povo exótico no país, porém, não parou de gerar polêmicas. Tanto na esfera executiva como legislativa surgiram opiniões a favor e contra a entrada de novos imigrantes japoneses. Em 1932, segundo informações do Consulado Geral do Japão em São Paulo na época, a comunidade nikkey era composta por 132.689 pessoas, com maior concentração na linha Noroeste. Desse total, 90% dedicava-se a agricultura. Nesta época, havia também diversas publicações em japonês com periodicidade semanal, quinzenal e mensal.  
 
   Principais colônias de imigrantes japoneses na decada de 1930
 

   
 
Em 1938, ano antecedente a Segunda Guerra Mundial, o Governo Federal começou a limitar as atividades culturais e educacionais dos imigrantes japoneses. Em dezembro, decretou o fechamento de todas as escolas estrangeiras, principalmente as de japones, alemão e italiano.     
  
Livraria japonês no centro de São Paulo (período antes da Guerra)



Rua Conde de Sarzedas (São Paulo) em 1937


Hospital Japonês (atual Hospital Santa Cruz) que logo após a sua inauguração
                     foi controlado por governo brasileiro na época da Segunda Guerra Mundial




As comunidades oriundas dos países integrantes do Eixo Roma-Berlim-Tóquio começaram a sentir os sintomas do conflito iminente. Em 1940, todas as publicações em japonês tiveram a sua circulação proibida. No ano seguinte, chegaram as ultimas correspondências do Japão. Até o fim da guerra, os japoneses viveram um período de severas restrições, inclusive o confisco de todos os bens.   

  
Periodo Pós-Guerra   
  
Em 1948, Yukishige Tamura e eleito vereador em São Paulo, tornando-se, assim, o primeiro nikkey a ocupar um cargo eletivo em uma capital. Já em clima de paz, e restabelecido, em 1949, o comércio entre Brasil e Japão por meio de um acordo bilateral. Um ano depois, o Governo Federal anuncia a liberação dos bens confiscados aos imigrantes dos paises do Eixo e, em 1951, aprova projeto para introdução no país de 5 mil famílias imigrantes. Encorajadas, as empresas japonesas começam a planejar investimentos no Brasil. As primeiras chegam em 1953. 
      
A comunidade japonesa deu grande apoio na ocasião da comemoração
  de 400 anos da fundação da cidade de São Paulo



                                                
Cinquenta anos após a chegada do navio Kasato Maru em Santos, o número de japoneses e descendentes no país somavam 404.630 pessoas. O príncipe Mikasa, irmão do imperador Hiroito, visita o país para participar das festividades do cinquentenário da imigração. Nas eleições majoritarias de 1962, já se pode observar a plena integração social e política dos brasileiros descendentes de japoneses, quando seis nisseis são escolhidos por meio das urnas: tres para a Câmara Federal (Minoru Miyamoto, do Parana; João Sussumu Hirata e Yukishige Tamura de São Paulo) e três para a Assembléia Legislativa de São Paulo (Ioshifumi Utiyama, Antonio Morimoto e Diogo Nomura).      
  
Em 1967, o príncipe herdeiro Akihito e a princesa Michiko visitam o Brasil pela primeira vez. Na recepção ao casal imperial, a comunidade nipo-brasileira lotou o estadio do Pacaembu.    
Em 1973, chega a Santos o Nippon Maru, o ultimo navio a transportar imigrantes japoneses. Em 1978, a imigração japonesa comemora 70 anos. O príncipe herdeiro Akihito e a princesa Michiko participam das festividades e novamente e lotam o Pacaembu. No prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo de São Paulo) foi inaugurado o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil.  
 
  
A Integração Consolidada   
  
Os anos 60 foram marcados, em muitos aspectos, pela integração dos nikkeis a sociedade brasileira. Além da participação ativa na vida política por meio de seus representantes nas casas legislativas, os nikkeis começaram a despontar nas areas culturais, notadamente na grande imprensa - liderados por Hideo Onaga, na Folha de S. Paulo -, e nas artes plásticas, com destaque para Manabu Mabe. Neste mesmo período, durante o governo Costa e Silva, também foi nomeado o primeiro ministro descendente de japoneses, o empresário Fabio Yassuda, que assumiu o cargo de Ministro da Indústria e Comércio, sem, no entanto, cumprir integralmente sua gestão.      
  
No futuro, dois outros seriam chamados a assumir cargos equivalentes: Shigeaki Ueki, como Ministro de Minas e Energia do Governo Geisel, e Seigo Tsuzuki, como Ministro da Saúde do Governo Sarney. Outro marco importante de 1964 foi a inauguração da sede da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistencial Social (Bunkyo de São Paulo) na rua São Joaquim, no bairro da Liberdade.    
 
         Festivo de 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, realizado no Estádio de Pacaembu,
   na qual reuniu mais de 40 mil imigrantes japoneses.
  
                                         

O Bunkyo passou a promover e coordenar a maioria dos grandes eventos com envolvimento da comunidade nipo-brasileira como um todo: aniversários da imigração, visitas ao Brasil de membros da Família Imperial etc.      
  
A partir da decada de 70 começaram a surgir as primeiras obras literárias escritas por nikkeis, tendo como temas o Japão e os imigrantes, entre eles: Japão Passado e Presente (1978) e História dos Samurais (1982), ambas de José Yamashiro, além da obra considerada referência obrigatória dentro da história da imigração japonesa, o livro: O Imigrante Japonês (1987), de Tomoo Handa.    
Em 1988, no 80o aniversário da imigração, comemorado com a presenca do príncipe Aya, filho de Akihito, o Censo Demográfico da Comunidade, feito por amostragem, estimava o número de nikkeis no país em 1.228.000 pessoas. Nesse final de década, a comunidade nipo-brasileira e o próprio pais já começaram a sentir os efeitos de um novo e curioso fenômeno que se alastrava rapidamente entre as famílias nikkeis, os dekasseguis.  

  
O Fenomeno Dekassegui      
  
A ida de milhares de japoneses e descendentes do Brasil para o Japão começou em 1988, atingindo seu auge no início da década de 90.     
Seguindo o caminho inverso dos imigrantes do Kasato Maru, mas com objetivos semelhantes, os dekasseguis marcaram este período como um dos mais importantes da história da imigração japonesa.      
  
Em 1991, o Bunkyo de São Paulo realizou o "Simpósio sobre o fenômeno dekassegui". No ano seguinte, foi criado o CIATE - Centro de Informação e Assistencia ao Trabalhador no Exterior - com a colaboração do Ministério do Trabalho do Japão. Este serviço tem sua sede no prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistencia Social.     
  
No mesmo período surge, também, a primeira obra literaria de ficção escrita por uma nikkey, tendo como personagens descendentes de japoneses e tema relacionado ao fenômeno dekassegui: Sonhos Bloqueados, que foi lançado em  1992 pela professora Laura Hasegawa. Outro importante acontecimento desta década foram as comemorações, em 1995, do centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão. A princesa Norinomiya, filha de Akihito, já então imperador do Japão, veio prestigiar as festividades. Em 1997 o próprio casal imperial fez uma visita de 10 dias ao Brasil, provocando grande emoção na comunidade. Em 1998, a comunidade nikkei de todo o país comemorou com festa os 90 anos da imigração. Nessa festa, a ultima sobrevivente da primeira leva de imigrantes, sra. Tomi Nakagawa, estava presente.  
  
Decorrido todo este tempo desde sua chegada ao Brasil, o Kasato Maru permanece como marco da imigração japonesa no Brasil.




 
Fonte: Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil
    
Site: Escola Modelo da Lingua Japonesa de Mogi das Cruzes 

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